Manoela Cezar
Info

Todo dia é uma despedida (2018)
Em colaboração com Pedro Geraldo
Vídeo. 60’, cor, stereo.
Everyday we say goodbye (2018)
In collaboration with Pedro Geraldo
Video, 60', color, stereo





30/09/2018

Este é um filme que tem medo da morte.

Peço para o meu melhor amigo dançar em frente à nossa câmera durante um tempo indetermidado. Ele está indo embora para outro país e eu quero guardar um pedaço dele que dure pra sempre.

Enquanto o observo dançando eu percebo que ele não dança como antes, que aquele novo jeito de dançar é diferente do que eu me lembrava e queria guardar. Mas eu guardei um novo jeito dele de se mexer, que é como ele existiu nesse dia e hora que estivemos juntos.

Eu estou presente na cena. Pedro me faz presente quando me dirige um olhar, uma risada, uma pergunta. Eu me faço presente na maneira como escolho enquadra-lo, mostrando a totalidade do seu corpo e do seu quarto. O fora de quadro, o contra-plano do filme sou eu sentada atrás da câmera observando-o com o olhar fixo, sem olhar pro visor da câmera, e um sorriso no rosto tentando guardar seus movimentos na memória enquanto a câmera guarda no cartão. Tentando me lembrar dos momentos que passamos juntos, de como ele dançava antes, de como eu gostaria de repetir esse filme daqui 50 anos com ele. Imaginei ele velinho dançando, ou não dançando. Como será esse Pedro daqui 50 anos? Eu quis entrar em cena e dançar com ele.

Alguns dias antes de sua partida, e anos depois da imagem que eu tenho dele dançando. O filme é o cruzamento entre duas expectativas, uma do passado em relação ao presente, e outra do presente em relação ao futuro. E é um gesto simples, um plano único, porque importava mais para mim observa-lo do que filma-lo; posicionar a câmera e não me preocupar com cortes, mudanças de enquadramento. A câmera, sem memória, tenta repetir a função do meu olho. Mas ninguem pode ver o que eu vi. Ninguem pode ver o que eu vejo quando assisto Pedro dançando. Eu vejo com a minha memória, porque ele e o quarto dele, cada pedaço me leva pra um lugar. Eu vejo com a minha memória e gravo pra poder esquecer e poder lembrar quando tiver saudade. Eu gravo pra que eu possa esquecer e o mundo possa se lembrar. Me despeço de Pedro observando-o, porque eu não sei quando eu vou olhar para ele de novo.
09/30/2018

This film is afraid of death.

I ask my best friend to dance in front of our camera for an undetermined amount of time. He’s moving to another country, and I want to keep a piece of him that will last forever.

As I watch him dance, I realize he doesn’t dance the way he used to—that this new way of moving is different from what I remembered and wanted to preserve. But I recorded a new version of how he moves, the way he existed on that specific day and hour we spent together.

I am present in the scene. Pedro makes me present when he looks at me, laughs, or asks me a question. I make myself present in the way I choose to frame him—showing his entire body and his room. The off-screen space, the reverse shot of the film, is me sitting behind the camera, eyes fixed on him instead of the camera screen, with a smile on my face, trying to store his movements in my memory while the camera records them to the memory card. Trying to remember the moments we shared, how he used to dance, and how I’d love to remake this film with him fifty years from now. I imagined him old, dancing—or not dancing. What will Pedro be like fifty years from now? I wanted to step into the frame and dance with him.

This was filmed a few days before his departure, and years after the image I have of him dancing. The film lies at the intersection of two expectations—one from the past regarding the present, and another from the present looking toward the future. And it’s a simple gesture, a single shot, because it mattered more to me to watch him than to film him; to set up the camera and not worry about cuts or reframing. The camera, without memory, tries to mimic the function of my eye. But no one can see what I saw. No one can see what I see when I watch Pedro dancing. I see with my memory, because he and his room—every detail—take me somewhere. I see with my memory, and I record so I can forget, and remember when I miss him. I record so I can forget and the world can remember. I say goodbye to Pedro by watching him, because I don’t know when I’ll look at him again.